Tom Zé é um destes casos em que o artista (a embalagem) é bem melhor que a música (o conteúdo). Tom me soa como aqueles presentes que damos aos amigos embalados em várias caixas. Quanto mais abrimos as caixas, mais percebemos que o presente vai se tornando cada vez menor. Sem desmerecer o enorme talento para o marketing pessoal e o razoável talento musical do baiano de Irará, em terra que já deu Jorge Mautner e Taiguara, quem tem David Byrne é Tom Zé.
Vi esse texto do Arthur Dapieve (escritor e colunista d'O Globo) na Playboy de setembro e me identifiquei bastante com o que ele disse. Dá um saque aê... ___________________________________ SE TUDO É MUITO FÁCIL, NADA TEM MUITO VALOR. Hoje, todo mundo tem música à disposição de forma vasta, dispersa e desigual. E gratuita. O problema é que a gente costuma dar mais valor ao que é pago...
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Abafada pela discussão que indústria fonográfica, artistas e ouvintes travam em torno do direito autoral de músicas baixadas gratuitamente pela internet, há outra, tão importante quanto: no contexto do liberou geral, a música perde valor? Temo que sim. No campo das coisas, a gente sempre dá mais valor àquilo pelo qual se paga. Tomo-me como mero exemplo. Tenho 42 anos. Compro discos regularmente desde os 14. Trabalho como crítico musical desde os 22. Continuo comprando discos regularmente. Aliás, por razões geracionais e fetichistas,uso o computador sobretudo para encomendar ainda mais discos. Por mais que compre, porém, nada nunca conseguiu reproduzir o prazer adolescente que sentia quando saía da loja com o único LP da semana. Meus amigos faziam o mesmo. A combinação entre dinheiro contado e pouca oferta nos tornava extremamente exigentes: a descoberta da música, assim, caminhava lado a lado com a formação de um espírito crítico. Hoje, a rapaziada tem acesso virtualmente a tudo de graça. A oferta de música é vasta, dispersa e desigual. Longe de defender aqui um dogma da infalibilidade industrial, cabe reconhecer que as gravadoras funcionavam como uma peneira. Não acredito num Elvis injustiçado, sem a Sun Records . Aconselhado pela imprensa ou não, este bicho hoje em extinção, que pagava por LPs e CDs, ainda dava uma segunda peneirada. Seu gosto era forjado, então, na dialética entre contenção de despesa e expansão de sensibilidade. Se puderem desfrutar de tudo, sem nenhum investimento emocional, as novas gerações conhecerão o prazer do sexo com paixão? A resposta será psicografada na PLAYBOY de setembro de 2056.
5 Comments:
Ave, Ave!..:-)))
..em atitude de reverência..:)
Ave "TOM"
Vendo a foto do Tom, lembrei-me de recomendar a todos: http://brnuggets.blogspot.com/. Dá uma olhada aê...
Tom Zé é um destes casos em que o artista (a embalagem) é bem melhor que a música (o conteúdo). Tom me soa como aqueles presentes que damos aos amigos embalados em várias caixas. Quanto mais abrimos as caixas, mais percebemos que o presente vai se tornando cada vez menor. Sem desmerecer o enorme talento para o marketing pessoal e o razoável talento musical do baiano de Irará, em terra que já deu Jorge Mautner e Taiguara, quem tem David Byrne é Tom Zé.
Vi esse texto do Arthur Dapieve (escritor e colunista d'O Globo) na Playboy de setembro e me identifiquei bastante com o que ele disse. Dá um saque aê...
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SE TUDO É MUITO FÁCIL, NADA TEM MUITO VALOR. Hoje, todo mundo tem música à disposição de forma vasta, dispersa e desigual. E gratuita. O problema é que a gente costuma dar mais valor ao que é pago...
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Abafada pela discussão que indústria fonográfica, artistas e ouvintes travam em torno do direito autoral de músicas baixadas gratuitamente pela internet, há outra, tão importante quanto: no contexto do liberou geral, a música perde valor? Temo que sim. No campo das coisas, a gente sempre dá mais valor àquilo pelo qual se paga.
Tomo-me como mero exemplo. Tenho 42 anos. Compro discos regularmente desde os 14. Trabalho como crítico musical desde os 22. Continuo comprando discos regularmente. Aliás, por razões geracionais e fetichistas,uso o computador sobretudo para encomendar ainda mais discos.
Por mais que compre, porém, nada nunca conseguiu reproduzir o prazer adolescente que sentia quando saía da loja com o único LP da semana. Meus amigos faziam o mesmo. A combinação entre dinheiro contado e pouca oferta nos tornava extremamente exigentes: a descoberta da música, assim, caminhava lado a lado com a formação de um espírito crítico.
Hoje, a rapaziada tem acesso virtualmente a tudo de graça. A oferta de música é vasta, dispersa e desigual. Longe de defender aqui um dogma da infalibilidade industrial, cabe reconhecer que as gravadoras funcionavam como uma peneira. Não acredito num Elvis injustiçado, sem a Sun Records .
Aconselhado pela imprensa ou não, este bicho hoje em extinção, que pagava por LPs e CDs, ainda dava uma segunda peneirada. Seu gosto era forjado, então, na dialética entre contenção de despesa e expansão de sensibilidade. Se puderem desfrutar de tudo, sem nenhum investimento emocional, as novas gerações conhecerão o prazer do sexo com paixão? A resposta será psicografada na PLAYBOY de setembro de 2056.
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