quinta-feira, novembro 10, 2005

Nós somos um número

É isso mesmo. Você não se chama João, Maria, Carlos, Lúcia, Chico... Você é um número. Percebam como, a cada dia, o Estado (leia-se tudo que o compõe: da sua casa ao boleto do financiamento dela...) deixa de te ver como um cidadão que tem suas fraquezas, demências, dormências, virtudes, vontade de pagar as contas etc., pra dizer que você é um número. Não importa quem você seja, se é bonito ou feio, gordo ou magro, se passou o cartão porque estava curtindo ou porque seu filho adoeceu de madrugada: você é um número.
A primeira coisa que perguntam, ao ligarmos para um desses serviços de atendimento ao consumidor, é qual o seu CPF, seu número do cadastro, sua data de nascimento. Você não representa nada para esses órgãos, seu score é medido de acordo com a quantidade de vezes que você/números aparece nas telas dos computadores do Grande Irmão.
Recebi uma carta de meu cartão de crédito informando-me que, temporariamente, a administradora havia cancelado o cartão, por ele ter sido usado em uma situação "suspeita". Pediu para entrar em contato com eles para logo em seguida desbloqueá-lo. Tu ligou? Nem eu. É muito desaforo. Ainda +, ontem assistindo à TV, apareceu um comercial do dito cartão se vangloriando da atitude. Fodam-se. Eu não sou bandido, não preciso que essas instituições cuidem de mim. Liguem, perguntem se houve roubo, extravio, escambau, e vejam se houve ou não algo.
Fora isso, não adianta que não somos bobos. Essa de querer nos rotular, de colocar códigos de barra n'agente não dá!!! Ainda sabemos distinguir o belo? Ainda sabemos ler um poema? Ainda sabemos ouvir uma boa canção e nos deleitar? Vamos lembrar de Blade Runner!!!! Não podemos nos entregar!!! Deixem os imbecis com seus números, seus gráficos... Deixem-nos com o amor e a phoda.