sábado, janeiro 08, 2005

Os homens defendem a lei, a razão, a necessidade; a mulher está ciente da contingência original do próprio homem e da necessidade na qual ele acredita; daí a misteriosa ironia que está em seus lábios e em sua enorme generosidade. Ela cura os machucados do homem, ela cuida do recém-nascido e se ocupa dos mortos; ela sabe tudo sobre o homem que ataca seu orgulho e humilha seu amor-próprio. Enquanto ela se submete a ele e submete a carne ao espírito, ela se mantém nos limites carnais do espírito, abrabndando, como já se disse, as arestas da formação do homem e tratando-o com luxúria e graça. O poder das mulheres sobre os homens vem do fato de elas o lembrarem modestamente de sua verdadeira condição; é o segredo de sua desiludida, triste, irônica e adorável sabedoria. Nas mulheres, até a frivolidade, o capricho e a ignorância são virtudes atraentes porque elas se desenvolvem ao lado e abaixo do mundo em que os homens escolheram viver, mas onde não querem se sentir confinados. Acima e além dos significados estabelecidos e dos objetos feitos com fins úteis, ela preserva o mistério das coisas intactas, ela sopra o hálito da poesia pelas ruas da cidade, sobre os campos cultivados.
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.
(Eu não tenho + nada a dizer)